Lido por indicação de minha mãe nas aulas de leitura, o livro
“1984”, de Eric Arthur Blair (vulgo George Orwell), não me agradou no começo, encantou-me no decorrer da história e desgostou-me ao
fim. Por ser um clássico literário da ficção científica, o livro deixou a
desejar; ao mesmo tempo, deixou muitas reflexões e comparações com a situação
política e demais acontecimentos do nosso país.
O livro, publicado em 1949, conta sobre um futuro no qual o
Estado sabe de tudo: todos são vigiados 24h por dia, 365 dias por ano, por um
aparelho (lembrou-me as televisões, celulares e etc...) chamado teletela; a
língua é empobrecida para que não ocorram pensamentos-crime (censura da
linguagem para que revoltas e revoluções sejam coibidas quando estiverem sendo
pensadas e faladas); as pessoas são “vaporizadas” (desaparecem após o Estado as
torturar, fazerem confessar mesmo que não tenham culpa; desaparecem não só
fisicamente, mas elas somem de todo o tipo de registro – fotos, textos,
gravações – que as envolva) e há também uma construção e modificação constante
da verdade.
O personagem principal, Winston Smith, trabalha para o Estado
e, em sua mente, para o “Grande Irmão” (praticamente a personificação das
coisas boas, como obediência e demais valores que foram invertidos para servir
àquela ocasião) no Ministério da Verdade. O que Winston faz? Ele recebe relatórios
em novafala (lembra do empobrecimento da linguagem? É chamada de novafala)
dizendo que tais pessoas foram vaporizadas, que a Oceânia (local onde a
história se passa) mudou de oponente e aliado... E era encarregado de trocar as
informações que o Partido não queria e substituir por outras que o Partido
determinava. Como Winston disse, em um trecho do livro, ele estava
“reconstruindo constantemente o passado e tecendo o futuro”.
Winston não era conformado com tanta doutrina: ele queria
saber o que se passou antes dos documentos históricos serem modificados. Por
isso, com todo o cuidado do mundo (pois já suspeitava que estivesse sendo
seguido por uma mulher que ele julgava ser da Polícia de Ideias), procurou
pelas periferias alguma coisa que pudesse lhe dizer o que era antes de ser o
que é. Encontrou um antiquário, e ao sair do mesmo (tendo comprado apenas um
coral proveniente do Mar Índico), deparou-se com a mulher que o seguia e
precisou resistir ao ímpeto de arremessar um tijolo contra sua cabeça, tal sua
indignação contra a suposta participação da mulher na Polícia de Ideias. Não o
fez, e voltou para o trabalho.
Ao voltar para o trabalho e participar dos Dois Minutos de Ódio
(dois minutos nos quais o esquerdismo e liberdade de expressão e seus
representantes eram intensamente odiados), encontrou-se com a mulher que o
seguia, que deixou um bilhete na mão de Winston. Seu conteúdo nada condizia com
o que Winston havia suposto: dizia apenas: I love you. Winston tentou aproximar-se, sob
diferentes contextos, daquela mulher. Dela, arrancou apenas alguns conselhos
para um encontro longe das teletelas e do Grande Irmão.
Naquele encontro, no meio de uma floresta, conversaram sobre
as possibilidades de revolução; amaram-se; conheceram-se; e combinaram repetir
a dose. Após muitos encontros como esse, ambos filiaram-se a um suposto
“esquerdismo”, que não passava de uma armadilha do próprio Governo para
prender, torturar e matar aqueles que procurassem o demoníaco esquerdismo e a
temida liberdade.
Com Winston e Júlia não foi diferente: a Polícia das Ideias
os surpreendeu falando sobre revolução, separou-os (a partir daí o texto foca
em Winston), tortura Winston, aplica ainda mais ideologias como
“se-o-Partido-quer-que-dois-e-dois-sejam-cinco-então-dois-e-dois-serão-cinco”,
faz com que Winston traia Júlia e, por fim, mata-o. O mesmo morre feliz, pois
enfim acreditou que dois e dois são cinco; em suma, Winston morre amando o
Grande Irmão.